Pouco mais de 7 meses limpo. Sem nenhuma recaída — e digo isso porque sou fruto de várias recaídas. Era sempre a mesma história: recaía e prometia — “nunca mais vou usar, nunca mais vou usar…”

Prometi ao meu sogro. Prometi aos meus filhos. E foi aí que aconteceu a virada de chave: “Papai nunca mais vai usar.” Desde então, nunca mais usei. A porrada foi tão forte que até hoje sinto o gosto amargo do fel. Senti-me deslocado, desorientado, sem norte.

Nunca foi meta — muito menos fácil. Conquistar essa liberdade exigiu dor, coragem e escolha. Viver limpo é liberdade. Ficar limpo é escolha.

Foi necessário muito sofrimento até entender que havia, de fato, um mundo lá fora. Um mundo em que eu não precisava me esconder em um quarto escuro, tomado por medo, terror e pânico — imaginando alguém do outro lado da porta ou algo debaixo da cama, quando não havia nada. Eu havia criado para mim os meus próprios monstros e fantasmas.

Me escondia daquilo que não existia senão na minha cabeça. Apenas eu, dentro da minha casa, assombrado por criaturas alimentadas pela minha mente. Vivia numa prisão sem grades: o corpo livre, a mente aprisionada, presa à mesma rotina, aos mesmos hábitos, às mesmas pessoas e lugares — ambientes que facilitavam o uso, a mentira, a manipulação, o autoengano e a autopiedade.

Minha esposa — que mulher maravilhosa. Que garra, que amor, que tudo. Mesmo quando eu não acreditava em mim, ela acreditava. Estava ao meu lado, me ouvindo dizer: “Tudo isso uma hora vai mudar, vai acabar, vamos dar a volta por cima.” E, de fato, estamos conseguindo — dia após dia, noite após noite — superando desafio após desafio.

Hoje, tudo à minha volta ganhou cor e vida. O verde está mais verde, o céu mais azul, a água pulsa com vida e o sol parece mais ensolarado do que nunca.

O tumultuado em pouco espaço, o apertado, tornou-se aconchegante. A pequena, porém longa, caminhada tornou minhas manhãs mais exuberantes. Que privilégio estar vivo para sentir essas emoções, impressões e conclusões.

E tudo isso eu dedico ao meu maior amor — àquela que foi paciente, tolerante e fiel ao nosso caminho. Para sempre te amarei. Sou e serei teu eterno amante.

Obrigado por não desistir de mim. “Te amo, vidinha!” ❤️